terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Apontamentos sobre Organização e Gestão Curricular

1. A taxonomia de B. Bloom

Benjamim Bloom criou uma célebre taxonomia do domínio cognitivo que prevê o agrupamento das operações cognitivas e tarefas de aprendizagem em 6 níveis hierárquicos: aquisição de conhecimentos básicos, compreensão, aplicação, síntese e avaliação.


A aquisição de conhecimentos básicos representa o nível mais baixo em termos de complexidade cognitiva. Incorpora tarefas relacionadas com a aquisição de informações: dados, factos, teorias e datas. Apela à memorização, essa função tão importante e tão esquecida pelas pedagogias construtivistas.
A compreensão representa o segundo nível e pressupõe o domínio do primeiro. Tem que ver com a tradução, a interpretação e a extrapolação das informações adquiridas. Exige que o aluno estabeleça relações entre os elementos, compreenda o significado das coisas, reformule com palavras próprias e tire consequências das informações.
A aplicação exige tarefas de mobilização das informações adquiridas em ordem a resolver um problema que não seja trivial nem repetido. O nível da aplicação tem semelhanças com as competências de aprendizagem. Tarefas de aplicação conduzem ao desenvolvimento de competências. Mas em Bloom não há lugar para competências desgarradas dos conteúdos.
A análise exige a decomposição do todo nas suas partes e a capacidade para recombinar os elementos em ordem à reconstituição do todo.
A síntese pressupõe a capacidade para criar e construir conhecimento com base na recolha e tratamento da informação. Uma composição original, um quadro ou um relatório de uma experiência científica são exemplos de tarefas de síntese.
Por último, a avaliação. Pressupõe a emissão de juízos de valor fundamentados em obediência a critérios de coerência interna e externa.

2. Definir objectivos
Use verbos que designam acção em termos de comportamentos observáveis
Opte por linguagem simples, clara e sem equívocos
Descreva o comportamento do aluno e não o do professor
Descreva o produto e não o processo
Cada objectivo deve incluir apenas um resultado do aluno
Use pelo menos uma medida para cada objectivo
Verifique se o objectivo é realista e alcançável
Leia, por favor, o anexo "regras para definir objectivos".
Os anexos contêm textos, em inglês, com regras sobre definição de objectivos. Aconselho a leitura.

3. A teoria de Mager dos objectivos comportamentais
Robert Mager publicou, em 1962, um importante livro: Preparing Objectives for Programmed Instruction.

Um objectivo de aprendizagem deve ser dividido numa série de objectivos comportamentais específicos e tarefas mais pequenas. Um objectivo de aprendizagem deve ter 3 componentes:
Comportamento: o comportamento deve ser observável e mensurável
Condição: as condições sob as quais o comportamento deve ser formulado
Standard: o nível de performance desejado deve ser formulado, incluindo uma série de respostas vistas como correctas.

De acordo com Mager são de evitar verbos como conhecer, compreender ou aprender por serem demasiado gerais e não descreverem a acção pretendida. Ao invés, Mager propõe o uso de verbos activos: listar, identificar, formular, descrever, definir, comparar e resolver.

4. Dois anexos: um sobre elaboração de um teste sumativo; outro sobre instrumentos de avaliação. Para ceder aos dois anexos, cliquem em cima das 5 imagens por esta ordem: 01; 02; 03; 04; 05.

5. Regras para definir objectivos de aprendizagem
5.1. Os objectivos devem ser claros e facilmente compreensíveis.
Têm de ser explícitos. Devem conter um verbo activo que descreva uma acção concreta. O objectivo deve ter apenas um significado.
Exempos:
O aluno deve ser capaz de identificar as parte do coração.
Dada um determinada lista, o aluno deve ser capaz de identificar as palavras mal escritas.
O aluno deve ser capaz de identificar os elementos químicos de uma mistura preparada pelo professor.
Todos estes objectivos estão formulados de forma explícita e exigem comportamentos observáveis. cada frase contém apenas um objectivo. Não há ambiguidade na formulação. Não estão contaminados pela generalidade.

5.2. Os objectivos devem ser observáveis
A avaliação dos resultados depende da observação das acções. O verbo tem de descrever uma acção observável.
Exemplos de verbos que não se devem usar nos objectivos:
conhecer
compreender
acreditar
pensar
familiarizar
gostar
Exemplos de verbos que se devem usar nos objectivos:
identificar
listar
elencar
escolher
localizar
isolar
dividir
separar
inferir
O verbo e o seu objecto devem ser claramente definidos. Devem promover acções observáveis ou produtos observáveis. As acções descritas são do aluno e não do professor.


Exercício: sobre definição de objectivos:

Seleccionar objectivos úteis

Saber o que faz com que um objectivo seja útil

Só o primeiro está correctamente formulado

Resolver problemas de matemática que exijam a aplicação do conteúdo raiz quadrada

Compreender como se resolve uma raiz quadrada

Só o primeiro está correctamente formulado.

Reconhecer fotos de animais em páginas de jornais

Associar os nomes dos animais às respectivas fotos

Só o segundo está bem formulado

Pontuar correctamente um parágrafo

Listar as regras de pontuação

Estão os dois bem definidos

6. Explicitando os níveis
6.1. Nível 1: Conhecimentos básicos
Reconhecer ou recordar informação
Relembrar o que foi ensinado
Relembrar factos, datas, definições e observações
Exemplos: Qual é a capital de Marrocos?
Palavras mais usadas neste nível:
definir
relembrar
reconhecer
recordar
identificar

6.2. Nível 2: Compreensão
O aluno vai para além da recordação da informação
Reformula as informações
Descreve usando palavras suas
Faz comparações
Extrapola
Interpreta
Traduz
O aluno interpreta, traduz e reformula.
Exemplos: Descreve com palavras tuas o último parágrafo do texto
Palavras mais usadas neste nível:
compara
reformula
explica
contrasta

6.3. Aplicação
Requer que o aluno aplique uma regra ou um procedimento a um problema.
Exemplo:
De acordo com a nossa definição de socialismo, quais das seguintes nações podem ser consideradas socialistas?
Palavras que definem as perguntas de aplicação:
aplicar, classificar
escolher
usar
resolver

6.4. Análise (Fonte: Planificação e Avaliação do Ensino e Aprendizagem, Universidade Aberta)
Exige que o aluno se envolva em 3 formas de processos cognitivos:
Identificar os motivos, razões e causas de uma ocorrência específica
Analisar a informação disponível em ordem a alcançar uma conclusão, inferência ou generalização
Analisar uma conclusão ou generalização

A operação de análise envolve a divisão de um todo em ordem a melhor entender as relações entre as partes que o constituem

Exemplos:

Depois de ler este texto, como caracterizaria a ideologia do autor?

Que informação usaria para justificar que Nixon não foi um presidente bem sucedido?

Identifica a ideia principal de um texto dado

Identifica, num texto dado, razões subjacentes ao comportamento de diferentes personagens

Face a resultados inesperados numa experiência química, identifica as respectivas causas

Identifica a estrutura adoptada por um relatórios de actividades

6.5. Síntese
Exige que o aluno crie ou produza uma obra original

Os comportamentos ao nível da síntese envolvem a organização de diferentes elementos num todo novo que representa uma criação original. Refere-se a operações de tipo criativo.
Palavras comuns nas questões de síntese:
Predizer
Produzir
Criar
Sintetizar
Construir

Exemplos:

Produza um ensaio com 3000 palavras sobre o conceito de luta de classes na teoria de Marx

Redige uma composição subordinada ao tema A Pobreza em Portugal

Pinta a aguarela uma paisagem

Elabora um projecto de investigação no campo educacional

7. Três problemas:

7. 1. O professor só faz perguntas e exige tarefas do nível 1. Errado porque centra o ensino apenas em actividades de rotina.

7.2. O professor faz muitas perguntas quase ao mesmo tempo. Provoca confusão e falta de atenção nos alunos.

7.3. O professor não dá tempo ao aluno para responder.


Em conclusão, é preciso dar tempo ao aluno para reflector e construir a resposta.

Quando o aluno não percebe a pergunta, o professor deve reformulá-la. Em vez de ser o professor a dar a resposta, deve dirigir a pergunta a outros alunos

Sugestões para os professores:

Evitar repetir em demasia as respostas quer do professor quer dos alunos.

Evitar reacções do género "sim...mas". A resposta do aluno ou está certa ou errada. Se está errada, o professor deve dirigir a pergunta a outro aluno até se encontrar a resposta certa. Se nenhum aluno conhece a resposta certa, tem de ser o professor a revelá-la.

Exemplos de Grelhas de um plano

Há diversos tipos de plano:

De aula

De unidade de ensino

Anuais

Correspondem a diferentes unidades temporais.

Os planos anuais elaboram-se antes do ano lectivo começar. Pega-se numa agenda e no calendário escolar e distribui-se os conteúdos pelas aulas previstas. Os planos anuais têm de respeitar os objectivos gerais que constam dos programas de ensino.

1. Objectivos gerais 2. Conteúdos/competências 3. Actividades 4. Recursos/materiais

Para quê? O quê? Como Com que meios?
Objectivos específicos

Conteúdos

Objectivos

Estratégias

Actividades

Avaliação


Objectivos comportamentais (Fonte: Planificação e Avaliação do Ensino e Aprendizagem (Universidade Aberta)


Um objectivo específico pdoe ser ou não enunciado em termos comportamentais. Se não indica, claramente, um comportamento observável que o aluno deve revelar, poderá ser específico mas não é comportamental.

Exemplo: Aprecia a 9ª Sinfonia de Beethoven

É específico mas não comportamental

Exemplo: Expõe o que mais aprecia na 9ª Sinfonia de Beethoven

É específico e comportamental.

Um objectivo comportamental, para além de indicar um comportamento observável e um conteúdo sobre que se exerce tal comportamento, pode, ainda, incluir outras informações que permitam mais facilmente avaliar a consecução do objectivo:

Quem?

O quê?

Conteúdo

Nível de proficiência - Em que medida?

Tempo - Quando?

Instrumento de avaliação - Como?

Exemplo de formulação de objectivo:

No final da unidade, os alunos do 6º ano identificarão 3 causas da expansão marítima, num teste de escolha-múltipla.

Os objectivos de produto são os que se esperam no final de uma sequência de aprendizagem que conduziu até eles.

Os objectivos de processo são so que se referem aos meios usados para atingir os objectivos de produto.

Qual é a diferença entre objectivos e actividades?

Um objectivo educacional corresponde sempre a uma aprendizagem que o aluno ainda não possui mas que se deseja que adquira. Entre o ponto de partida - ausência de aptidão - e o ponto de chegada - aquisição da aptidão - há um caminho a percorrer que corresponde a um processo de aprendizagem que se traduz em actividades dos alunos.

O enunciado do objectivo diz sempre o que o aluno está apto a fazer.

O enunciado da actividade diz o que está a fazer para ficar apto.

Exemplo de actividade:

Observa a preparação do microscópio

Exemplo de objectivo:

Identifica diferentes estruturas celulares

Exercícios (Fonte: Planificação e Avaliação do Ensino e Aprendizagem ; Universidade Aberta)

Assinale de entre os seguintes objectivos os que podem ser considerados no nível de conhecimento:

1. Resume um texto dado

2. Indica a capital da Dinamarca

3. Define rectas paralelas

4. Explica o que se entende por um conjunto de objectos

5. Identifica os animais que estão nas gravuras

Assinale de entre os seguintes objectivos os que podem ser considerados no nível de compreensão:

1. Indica a distância entre 2 povoações, servindo-se de um mapa das estradas

2. Indica os nomes das capitais dos distritos de Portugal

3. Enuncia o Tratado de Tordesilhas

4.Nomeia os órgãos de uma planta

5. Explica o que significa a electricidade estática

Assinale de entre os seguintes objectivos os que podem ser considerados no nível de aplicação:

1. Demonstra um teorema dado

2. Enuncia um teorema dado

3. Lê gráficos de barras

4. Resolve uma raiz quadrada

5. Enumera os ossos da perna.

Apontamentos sobre avaliação da aprendizagem

Três modalidades de avaliação:

Diagnóstica

Formativa

Sumativa

Tipos de pergunta (Fonte: Planificação e Avaliação do Ensino e Aprendizagem, Universidade Aberta)

Resposta curta: É deixado um espaço para a resposta do aluno.

Exemplo: Quem escreveu os Lusíadas? ...............................

Vantagens: fácil elaboração; úteis para testar objectivos de nível 1; permitem a testagem de múltiplos objectivos no mesmo teste.

Desvantagem: Não avaliam objectivos de nível 3, 4, 5 e 6.

Regras para a construção de itens: uma pergunta directa; deve dar lugar a uma única resposta; a pergunta deve conter os termos exactos em que a resposta deve ser dada. Em itens de resposta curta, a correcção da prova é facilitada se os espaços para a resposta forem alinhados numa coluna à direita das perguntas; cada item deve ser independente dos restantes.

Exemplos de itens mal construídos:

Fernando Pessoa foi um poeta...................

Numa viagem com grandes................, o norueguês Amudsen conseguiu ............o inglês Scott e chegar primeiro ao Pólo Sul.

Item verdadeiro ou falso: A pergunta assume a forma de uma frase afirmativa que o aluno vai classificar como verdadeira ou falsa.

Exemplo: Em 1910, foi instaurada a República (Coloque um V ou um F à frente da pergunta)

Vantagens: perguntas de fácil elaboração; facilmente os alunos as compreendem.

Desvantagens: Não avaliam objectivos de nível superior; prestam-se a que os alunos respondam à sorte.

Regras para a construção de itens verdadeiro/falso:

Cada item deve ter uma única afirmação.

Evitar palavras ambíguas

Evitar frases negativas

As afirmações verdadeiras e falsas devem ter a mesma extensão

O número de afirmações verdadeiras e falsas deve ser semelhante.

Associação ou combinação: a pergunta apresenta um conjunto de elementos organizados em duas colunas paralelas, tendo os elementos de uma, relação com os elementos de outra.

Os elementos da coluna da esquerda são as premissas. Os da coluna da direita são as respostas.

Exemplos:

Coluna A....................................................................................Coluna B

.....O Primo Basílio........................................................................A Fialho de Almeida

.....A Queda de um Anjo................................................................B Júlio Dinis

.....As Farpas..............................................................................C Guerra Junqueiro

.....Os Gatos...............................................................................D Camilo Castelo Branco

E Oliveira Martins

F Ramalho Ortigão

G Eça de Queiroz




Vantagens

Fáceis de construir

Os alunos não podem adivinhar as respostas

Desvantagem

Não avalia as categorias de Análise e Síntese

Escolha Múltipla: Pergunta composta por um tronco e por uma lista de possíveis respostas.

Exemplos:

S. Tomé e Príncipe exporta diversos produtos. Qual dos seguintes exporta em maior quantidade?

A Café

B Banana

C cana de açúcar

D Cacau

Na seguinte lista de palavras, todas deviam ter um significado equivalente a resumo.

Assinale a alternativa falsa.

A Sumário

B Somatório

C Síntese

D Súmula

Vantagens

Fáceis de corrigir

Desvantagens

Não avalia as categorias de análise e síntese

Demora muito tempo a elaborar

Resposta livre: a pergunta apresenta uma questão aberta e o aluno é livre de apresentar as suas ideias sobre o assunto.

Exemplos:

Por que razão existe uma relação entre desemprego e pobreza?

Por que razão se fazem estudos de impacto ambiental antes de construir uma auto-estrada.

Vantagem

Fácil de elaborar

Permite avaliar as categorias de análise e síntese

Desvantagem

Difícil de avaliar.

Subjectividade na avali
Algumas definições de curriculum:

É toda a aprendizagem planificada e dirigida pela escola para atingir os objectivos educacionais. (Tyler)
É uma sequência de experiências oferecidas nas escolas para crianças e jovens em grupo, a percorrer por caminhos do pensamento e da acção. (Tanner e Tanner)
É um plano para a aprendizagem. (Taba)
O currículo é uma série estruturada de resultados de aprendizagem que se têm em vista (Johnson)
É uma sequência de unidades de conteúdo conducentes à mestria do aluno (Gagné).
É um plano estruturado de ensino-aprendizagem, englobando a proposta de objectivos, conteúdos e processos (Carrilho Ribeiro).

Definições de desenvolvimento curricular:

É um plano de estruturação do meio ambiente para coordenar de maneira ordenada os elementos tempo, espaço, materiais, equipamento e pessoal (Feyereisen)
Processo dinâmico e contínuo que engloba diferentes fases, desde a justificação do currículo à sua avaliação e passando pelos momentos de concepção, elaboração e implementação (Carrilho Ribeiro)
É uma prática, dinâmica e complexa, que se processa em diferentes momentos e fases, de modo a formar um conjunto estruturado integrando diferentes componentes: justificação teórica, elaboração/planeamento, operacionalização e avaliação (Pacheco)

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