quarta-feira, 11 de agosto de 2010

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO: REGISTOS DE INCIDENTES CRÍTICOS

REGISTOS DE INCIDENTES CRÍTICOS
Os registos de incidentes críticos consistem numa forma de descrever
comportamentos poucos habituais (negativos ou positivos) que se revelam
espontaneamente dentro ou fora da aula. Os comportamentos a registar devem
essencialmente contribuir para aumentar o conhecimento dos alunos e ultrapassar a
impressão vaga e geral que muitas vezes formamos deles. Desta forma, os dados de
observação que vamos recolhendo tornam-se mais precisos, sobretudo em domínios
onde as técnicas objectivas ou são inexistentes ou pouco adequadas. Tal situação
verifica-se quando queremos avaliar as relações sócio-afectivas, as atitudes e alguns
traços da personalidade.
Os instrumentos para registar os incidentes críticos podem ser utilizados quer na
observação indirecta e ocasional quer como “base de elaboração de instrumentos de
observação directa e sistemática” (Estrela, 1978). Neste último caso, poderão ajudar-
nos a delimitar o campo de observação permitindo também a construção de alguns
itens de instrumentos estruturados. Depois de registar e analisar um certo número de
incidentes críticos, o professor pode construir uma escala de classificação que lhe
permita avaliar o grau de confiança, de iniciativa ou perseverança de um aluno no
desempenho de algumas tarefas.
Apesar da sua grande importância na avaliação, estes registos devem ser
considerados como complementares em relação a outros instrumentos de observação e
analisados de uma forma contextualizada, uma vez que um incidente crítico numa
determinada situação pode não ser considerado desta forma num contexto diferente.
Se, por exemplo, durante a exposição de um tema por parte de um grupo, um aluno se
levanta e sai da sala sem previamente avisar o professor, podemos considerar o
acontecimento como um incidente crítico. Num trabalho independente, tal situação
poderia ser entendida como uma atitude natural do processo de pesquisa.
Como se trata de um instrumento de registo pouco estruturado e sem mecanismos
que possam controlar a subjectividade do observador, no sentido de a diminuir, o
incidente deve ser descrito com o máximo de rigor e detalhe e, separadamente,
interpretado, conforme é sugerido no exemplo seguinte.
Turma:..............
Aluno:......................................................
Data:.................
Local:.......................................................
Professor:......................................................
Incidente
Da pasta do João sairam alguns carimbos que pertenciam à escola. O aluno depois
de interrogado disse que os tinha levado na 6ª feira para casa e que os escondeu na
lixeira.
Interpretação
Os carimbos tinham sido utilizados num trabalho de um grupo mais avançado. O
João deve ter ficado triste por não ter feito esse trabalho e foi esconder os carimbos
na lixeira onde gosta de brincar.
Figura 1 Registo de Incidente Crítico. (Adaptado de um trabalho realizado por um grupo de professores no âmbito de um curso de Formação.)
O registo de incidentes críticos apresenta vantagens óbvias no processo de
avaliação desde que desenvolvido de acordo com as condições adequadas. Vejamos,
então, algunas das suas vantagens a par de algumas desvantagens.
VANTAGENS
. Evidenciam factos significativos apesar de pouco frequentes.
. Possibilitam o registo de comportamentos quer positivos quer negativos.
. Constituem uma forma de registo privilegiada em grupos de alunos muito novos,
captando aspectos mais espontâneos nas suas interacções ajudam, assim, o
professor a tomar consciência da existência de determinados comportamentos.
. Orientam as observações para áreas onde os comportamentos não podem ser
avaliados por outro método.
DESVANTAGENS
. Exigem que o incidente seja registado imediatamente, ou tão depressa quanto
possível, após a ocorrência.
. Requerem bastante tempo para constituirem um adequado sistema de registo.
. Nas situações complexas é difícil distinguir os comportamentos.
. Exigem a recolha de um número considerável de registos para se fazer um juízo.

Com efeito, só é possível inferir algo sobre o comportamento característico de
um aluno, depois de se verificar o mesmo comportamento de forma frequente.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
Estrela, M.T. e Estrela, A. (1978). A técnica dos incidentes críticos no ensino. Lisboa:
Editorial Estampa.
Lemos, V. (1989). O critério do sucesso. Lisboa: Texto Editora.
Lemos, V., Neves, A., Campos, C., Conceição, J. e Alaiz, V. (1992). A nova avaliação
da aprendizagem: o direito ao sucesso. Lisboa: Texto Editora.
Ribeiro, L. C. (1990). Avaliação da aprendizagem. Lisboa: Texto Editora.
Vallejo, P. M. (1979). Manual de avaliação escolar. Coimbra: Livraria Almedina.

Sem comentários:

Enviar um comentário